
Uma matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, em 26 de agosto, revela uma queda no interesse pela graduação em engenharia nos últimos anos, com exceção das áreas de computação e software. Os dados são de um levantamento feito a pedido do jornal pelo Instituto Semesp. Em 2018, 128.866 pessoas concluíram cursos de engenharia no Brasil. Já em 2023, esse número caiu para 93.056.
Segundo Vinicius Marquese, presidente do Confea, se essa tendência se mantiver até 2030, o país poderá enfrentar um déficit de até 1 milhão de engenheiros, o que impactaria diretamente a economia. “Hoje, já faltam profissionais em quantidade e qualidade no mercado”, afirmou ele ao jornal.
Ainda de acordo com dados do Confea, o Brasil conta atualmente com 1,3 milhão de engenheiros registrados, dos quais apenas 20% são mulheres. Marquese ressalta que o desinteresse pelas engenharias deve ser encarado como uma questão estratégica. “Falta tratar isso como política pública, como já fizeram os países mais bem-sucedidos. Tem que haver uma política de Estado em uma nação que quer se desenvolver”, completou.
A reportagem do Valor Econômico chama atenção para uma tendência preocupante: cada vez menos jovens estão optando pelas engenharias tradicionais no Brasil. A combinação entre a baixa qualidade do ensino, perspectivas de emprego limitadas e uma formação pouco conectada com a realidade do mercado tem contribuído para a queda na procura e para os altos índices de evasão. Ao mesmo tempo, cresce a demanda por profissionais qualificados — com um déficit estimado de cerca de 75 mil engenheiros. Reverter esse cenário exigirá um esforço conjunto entre governo, universidades e setor produtivo, com foco em formação prática, valorização da profissão e incentivo desde o Ensino Médio.
Contexto e dados oficiais
Dados recentes do Ministério da Educação (MEC) mostram que, entre 2014 e 2023, houve uma queda de 23% no número de calouros nos cursos de engenharia no Brasil — de aproximadamente 469,4 mil ingressantes em 2014 para cerca de 358,4 mil em 2023.
Paralelamente, há uma migração crescente para a modalidade de ensino a distância (EaD), que já concentra 54% dos novos ingressantes, frente aos 5,9% em 2014 — o que levanta preocupações sobre a qualidade da formação.
Principais causas do desinteresse
1. Dificuldade acadêmica e defasagem em matemática: a base fraca em disciplinas como matemática e física dificulta o ingresso e a permanência nos cursos.
2. Percepção de curso longo e pouca aplicabilidade prática: as engenharias exigem cinco anos ou mais de dedicação, com pouca integração prática, o que afasta jovens que buscam inserção mais rápida no mercado.
3. Escassez de oportunidades reais: muitos graduados migram para outras áreas devido aos baixos salários ou à falta de vagas compatíveis, o que reforça a percepção de que o esforço não compensa.
Impactos
- A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima um déficit de cerca de 75 mil engenheiros no Brasil.
- Há um descompasso entre vagas de estágio e número de candidatos: entre 2022 e 2024, as oportunidades de estágio aumentaram 10%, enquanto o número de estudantes caiu 24%.
- As taxas de evasão são alarmantes, variando de 25% a 80%, dependendo da modalidade, com maior desistência nos cursos à distância.